Espondiloartrite Axial (EA): Sintomas, Diagnóstico e Tratamentos

A dor nas costas é uma queixa comum, muitas vezes atribuída à postura ou ao cansaço. No entanto, se essa dor for persistente, piorar com o repouso (especialmente ao acordar) e melhorar com a movimentação, pode ser um sinal de algo mais sério: a Espondiloartrite Axial (EA), anteriormente conhecida como Espondilite Anquilosante.

Essa doença inflamatória crônica que afeta a coluna vertebral é uma das principais causas de dor nas costas de origem inflamatória em adultos jovens. Se você convive com dores constantes na coluna ou conhece alguém que enfrenta esse problema, este artigo foi cuidadosamente elaborado para esclarecer suas dúvidas, oferecer informações confiáveis e incentivá-lo a buscar atenção médica especializada.

Como reumatologista, meu objetivo é detalhar tudo sobre a Espondiloartrite Axial: seus sintomas característicos, as formas de diagnóstico e as opções de tratamento que podem ajudar a gerenciar a condição e a preservar sua mobilidade e qualidade de vida.

O que é Espondiloartrite Axial (EA)?

A Espondiloartrite Axial (EA) é uma doença inflamatória crônica que pertence ao grupo das espondiloartrites. Sua principal característica é a inflamação que afeta as enteses (regiões onde tendões e ligamentos se prendem aos ossos), de forma mais predominante na coluna vertebral (espondilite) e nas articulações sacroilíacas (localizadas na base da coluna, entre a coluna e a pelve causando sacroiliite).

Essa inflamação persistente pode levar, com o tempo, à fusão de algumas vértebras (anquilose), causando rigidez progressiva e dificuldade de movimento. É por isso que, no passado, a condição era frequentemente chamada de Espondilite Anquilosante — o termo ‘anquilosante’ refere-se a essa fusão. Entretanto, com os tratamentos modernos, a anquilose já pode ser prevenida e o termo Espondilite Anquilosante foi substituído por Espondiloartrite Axial, mantendo o acometimento preferencial pela coluna com os termos Espodilo e Axial, mas com o conceito de acometimento de outras articulacões (artrite).

Por acometer as enteses, embora a dor crônica nas costas seja a marca registrada da EA, a doença pode ir além, afetando:

  • Articulações periféricas: cotovelos, tornozelos, joelhos e quadris podem ser afetados. 
  • Olhos: Através de inflamações como a uveíte.
  • E, mais raramente, outros órgãos, como coração e pulmões.

A Espondiloartrite Axial é mais frequentemente diagnosticada em homens jovens, mas também pode acometer mulheres, embora, nelas, a manifestação e o diagnóstico possam ser mais sutis e desafiadores. Seu início costuma ocorrer antes dos 40 anos e, se não tratada adequadamente, pode comprometer significativamente a qualidade de vida e a funcionalidade.

Causas e Fatores de Risco: Por Que a Espondiloartrite Axial Acontece?

A causa exata da Espondiloartrite Axial (EA) ainda não é totalmente compreendida, mas sabe-se que seu desenvolvimento é o resultado de uma interação complexa entre fatores genéticos e imunológicos. Essencialmente, o sistema imunológico reage de forma inapropriada, atacando os próprios tecidos das articulações e causando a inflamação característica da doença.

Um dos principais fatores de risco e mais estudados é a presença do alelo HLA-B27. Embora possuir esse marcador aumente significativamente a predisposição, é importante ressaltar que nem todas as pessoas com HLA-B27 presente desenvolverão a doença. Outros fatores que podem estar relacionados incluem:

  • Histórico Familiar: Ter parentes de primeiro grau (pais, irmãos, filhos) com EA ou outras espondiloartrites aumenta o risco.
  • Idade e Sexo: A doença costuma se manifestar mais comumente entre 20 e 40 anos, sendo mais prevalente em homens. No entanto, ela também afeta mulheres (muitas vezes com sintomas menos clássicos) e, mais raramente, pode ter início na infância.
  • Infecções: Alguns estudos sugerem que certas infecções prévias podem atuar como gatilhos, desencadeando uma resposta autoimune em pessoas geneticamente predispostas.
  • Outras Condições autoimunes: Doenças inflamatórias intestinais (como a Doença de Crohn ou a Retocolite Ulcerativa) e Psoríase estão associadas ao desenvolvimento da Espondiloartrite. 

Por ser uma condição que faz parte do grupo das doenças reumatológicas autoimunes, o papel do reumatologista é fundamental. Quanto mais cedo a Espondiloartrite Axial for identificada e o tratamento iniciado, maiores as chances de preservar a mobilidade e manter uma boa qualidade de vida.

 

Sintomas da Espondiloartrite Axial: Como Identificar os Sinais de Alerta?

Os sintomas da Espondiloartrite Axial (EA) podem ser facilmente confundidos com dores comuns na coluna, o que, infelizmente, é uma das principais causas de atraso no diagnóstico. No entanto, alguns sinais característicos a diferenciam de uma simples dor mecânica, aquela causada por má postura ou uso inadequado da articulação da coluna:

  • Dor nas Costas Crônica e Inflamatória: Diferente de uma dor muscular comum, a dor da EA surge gradualmente, persiste por mais de 3 meses e, crucialmente, piora com o repouso. É mais intensa ao amanhecer ou durante a madrugada, podendo levar ao despertar noturno. A região mais afetada é a lombar e os glúteos (por conta das articulações sacroilíacas).
  • Rigidez Matinal Prolongada: Ao acordar, a coluna e as articulações podem parecer ‘enferrujadas’, dificultando o movimento ou o levantar da cama. Esse sintoma costuma durar mais de 30 minutos a uma hora, melhorando gradativamente com a movimentação e a atividade física.
  • Melhora com a Atividade Física: Um dos sinais distintivos da EA é que a dor tende a melhorar com o movimento e piorar quando o paciente fica parado por muito tempo (ao contrário da dor mecânica).
  • Dor em Outras Articulações (Artrite Periférica): Além da coluna, a doença pode afetar articulações como cotovelos, quadris, joelhos e tornozelos causando não só dor nestas articulações mas também em regiões específicas como o calcanhar (entesite do tendão de Aquiles) e planta do pé (fascite plantar).  
  • Dores difusas: o acometimento das enteses pode causar dores difusas  frequentemente confundidas com outras condições como a Fibromialgia.
  • Fadiga Intensa: A inflamação crônica, característica da EA, pode levar a um cansaço extremo e persistente, mesmo após períodos de descanso adequados
  • Inflamação Ocular (Uveíte): A uveíte (inflamação da íris e outras estruturas do olho) pode ser um dos primeiros sinais da doença em cerca de 25-40% dos pacientes com EA. Manifesta-se com dor nos olhos, vermelhidão, sensibilidade à luz (fotofobia) e visão turva.

Se você apresenta sintomas como esses, principalmente dor persistente nas costas que piora com o repouso e melhora com o movimento, e que teve início antes dos 40 anos, procure um reumatologista para uma avaliação detalhada. O diagnóstico precoce é essencial para evitar complicações e preservar sua qualidade de vida

Diagnóstico da Espondiloartrite Axial: Como a Condição é Identificada?

Um dos maiores desafios no diagnóstico da Espondiloartrite Axial (EA) é o tempo que os pacientes levam para procurar um reumatologista. Como a dor nas costas é um sintoma extremamente comum, muitas pessoas buscam soluções paliativas antes de considerar que pode haver uma doença inflamatória crônica por trás do problema. Esse atraso na busca por atendimento especializado pode, infelizmente, retardar o diagnóstico e o início do tratamento adequado.

Para identificar a EA com precisão, o reumatologista utiliza uma abordagem combinada, que inclui:

  • Anamnese Detalhada: Uma conversa aprofundada sobre seu histórico clínico, os detalhes dos sintomas, o padrão da dor (quando piora/melhora) e a investigação de possíveis fatores de risco genéticos (familiares com EA ou psoríase) e ambientais.
  • Exame Físico: Realização de testes específicos para avaliar a flexibilidade da coluna, a mobilidade das articulações e a presença de sinais de inflamação, especialmente nas articulações sacroilíacas.
  • Exames de Imagem:
    • Radiografias (Raios-X): Úteis apenas para identificar alterações tardias nas articulações sacroilíacas ou na coluna. Detectam apenas Espondiloartrite Axial Radiográfica, ou seja, quando já há alteração na radiografia.
    • Ressonância Magnética (RM): Considerada o exame de imagem mais sensível para a EA. Ela consegue detectar sinais de inflamação e alterações em estágios iniciais da doença, antes mesmo que as mudanças estruturais sejam visíveis na radiografia, ou seja, ela detecta a Espondiloartrite Axial Não Radiográfica.
    • Ultrassonografia com cálculo do Escore de Masei: Quando realizada por um profissional treinado e com um transdutor adequado, a ultrassonografia com deppler para o calculo do Escore de Masei, tem se mostrado um bom aliado para identificar sinais de inflamação nas enteses (onde tendões e ligamentos se ligam aos ossos) e auxiliam no diagnóstico da Espondiloartrite Axial, diferenciando aqueles com esta condição de pacientes com Fibromialgia.
    • Exames de Sangue:
    • Pesquisa do alelo HLA-B27: Ajuda a determinar a predisposição genética à doença. Embora seja um importante fator de risco, sua presença não é obrigatória para o diagnóstico e, por si só, não confirma a doença, mas é um importante fator de mal prognóstico.
    • Marcadores de Inflamação: Exames como a proteína C-reativa (PCR) e a velocidade de hemossedimentação (VHS) podem estar elevados em períodos de atividade da doença, indicando inflamação.

A conscientização sobre os sintomas e a importância de procurar um reumatologista precocemente são fundamentais para encurtar o tempo para o diagnóstico e melhorar significativamente a qualidade de vida do paciente com Espondiloartrite Axial.

Tratamento e Cuidados: Gerenciando a Espondiloartrite Axial para uma Vida Ativa

Embora não exista uma cura definitiva para a Espondiloartrite Axial (EA), os avanços terapêuticos atuais permitem um controle eficaz dos sintomas, a prevenção da progressão da doença e uma melhora significativa na qualidade de vida do paciente. O plano de tratamento é sempre individualizado, considerando a gravidade da doença, as articulações envolvidas e as necessidades de cada pessoa. As principais abordagens incluem:

  • Medicamentos:
    • Anti-inflamatórios Não Esteroidais (AINEs): São a primeira linha de tratamento para a maioria dos pacientes, ajudando a reduzir a dor e a inflamação na coluna e outras articulações.
    • Imunossupressores Imunobiológicos: Representam um grande avanço no tratamento da EA, sendo indispensáveis para casos mais graves ou para pacientes que não responderam adequadamente aos AINEs. Eles agem bloqueando proteínas específicas que promovem a inflamação. São exemplos: Inibidores de TNF (Infliximabe,  Etanercepte, Adalimumabe, Certulizumabe, Golimumabe), Inibidores de IL-17 (secuquinumabe e ixequizumabe), 
    • Imunossupressores Sintéticos: Medicamentos como Sulfassalazina, Metotrexato e Leflunomida, e mais recentemente os inibidores de JAK (anti-JAK) como tofacitinibe e upacitinibe, podem ser indicados em casos específicos, especialmente quando há envolvimento das articulações periféricas.
  • Fisioterapia e Exercícios Físicos: São pilares fundamentais do tratamento.
    • Alongamento e Fortalecimento Muscular: Cruciais para preservar a mobilidade da coluna e das articulações, reduzir a rigidez e fortalecer a musculatura que dá suporte ao esqueleto.
    • Técnicas Posturais: Melhoram o alinhamento da coluna e ajudam a minimizar o impacto da doença na postura e na função.
    • Atividades Físicas de Baixo Impacto: Práticas como yoga, pilates, natação e hidroginástica são altamente recomendadas por auxiliarem na flexibilidade, redução da rigidez e manutenção da força, sem sobrecarregar as articulações.
  • Mudanças no Estilo de Vida:
    • Parar de Fumar: O tabagismo está diretamente associado a uma progressão mais rápida da EA e pode reduzir a eficácia do tratamento. É um fator modificável de grande impacto.
    • Manter um Peso Saudável: O excesso de peso aumenta a carga sobre as articulações, o que pode agravar a dor e limitar a mobilidade.
  • Acompanhamento Médico Regular: O reumatologista é seu principal parceiro no controle da Espondiloartrite Axial. Consultas regulares são essenciais para monitorar a atividade da doença, avaliar a resposta ao tratamento e fazer ajustes necessários para garantir o melhor controle possível da condição e a manutenção da sua qualidade de vida.

 

Dicas Práticas: Construa um Viver Melhor com Espondiloartrite Axial

Movimente-se diariamente: Mesmo com dor, manter-se ativo,  exercícios adequados e supervisionados, é uma das melhores estratégias para reduzir a rigidez e preservar a mobilidade.

Adote uma boa postura: Invista em assentos ergonômicos e pratique exercícios que fortaleçam a musculatura de suporte da coluna para minimizar a sobrecarga.

Cuide da sua saúde mental: Conviver com uma doença crônica pode ser emocionalmente desafiador. Buscar apoio psicológico ou participar de grupos de apoio para pessoas com EA pode ser um suporte valioso.

Não ignore os sinais: Escute seu corpo. Não adie a busca por avaliação médica se a dor persistir ou se houver novos sintomas.

 

Minha Mensagem final

Cada caso de Espondiloartrite Axial (EA) é único, e o tratamento deve ser personalizado às suas necessidades. Não deixe a dor limitar sua vida! 

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Dra. Jaqueline Lopes

Olá! Sou a Dra. Jaqueline, médica Reumatologista formada pela UFMT. Sou apaixonada pela reumatologia e pela arte de ensinar, paixões que me levaram a atuar no meio acadêmico como médica concursada do HCFMUSP-SP por vários anos. Ao optar por me desligar, descobri que a arte de ensinar não está restrita ao meio acadêmico, e pode-se ensinar muito através de uma consulta médica. Assim, ao longo da minha trajetória como médica reumatologista, aprendi que a consulta médica vai muito além de prescrever tratamentos ou diagnosticar condições de saúde. Envolve empatia, escuta ativa, compreensão do paciente como um todo e construção de confiança.

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Dra. Jaqueline Lopes

Olá! Sou a Dra. Jaqueline, médica Reumatologista formada pela UFMT. Sou apaixonada pela reumatologia e pela arte de ensinar, paixões que me levaram a atuar no meio acadêmico como médica concursada do HCFMUSP-SP por vários anos. Ao optar por me desligar, descobri que a arte de ensinar não está restrita ao meio acadêmico, e pode-se ensinar muito através de uma consulta médica. Assim, ao longo da minha trajetória como médica reumatologista, aprendi que a consulta médica vai muito além de prescrever tratamentos ou diagnosticar condições de saúde. Envolve empatia, escuta ativa, compreensão do paciente como um todo e construção de confiança.