Síndrome de Sjögren: Compreenda os Sintomas, Diagnóstico e Tratamentos

Você já sentiu seus olhos persistentemente secos, como se tivesse areia nos olhos? Sente a necessidade de pingar colirios nos olhos mais que 3x/dia? Sente a boca persistentemente seca e tem dificuldade para ingerir alimentos secos como bolacha ou biscoito sem beber líquidos? Ou talvez um cansaço inexplicável e dores nas articulações? Esses podem ser mais do que simples incômodos; para muitas pessoas, são os primeiros sinais de uma condição autoimune chamada Síndrome de Sjögren. Frequentemente subestimada e com sintomas que podem ser confundidos com os de outras doenças, a Sjögren é uma condição crônica que afeta a qualidade de vida de seus portadores.

Neste artigo, como reumatologista, meu objetivo é desmistificar a Síndrome de Sjögren de forma clara e acolhedora, explicando o que é, seus sintomas mais comuns, como é feito o diagnóstico e quais são as formas eficazes de tratamento e cuidado. Acima de tudo, quero oferecer informações úteis e um incentivo para que você busque ajuda médica sempre que necessário. Acompanhe e descubra como o conhecimento pode ser um poderoso aliado em sua jornada por mais qualidade de vida.

O Que é a Síndrome de Sjögren? Entenda Essa Condição Autoimune

A Síndrome de Sjögren é uma doença autoimune crônica que se caracteriza principalmente pela inflamação e destruição das glândulas que produzem lágrimas e saliva. Em uma doença autoimune, o sistema imunológico, que deveria defender o corpo de invasores como vírus e bactérias, erroneamente ataca seus próprios tecidos saudáveis.

No caso da Sjögren, essa “confusão” do sistema imune leva à secura persistente nos olhos (xeroftalmia) e na boca (xerostomia), mas os impactos vão muito além:

  • Olhos e Boca: Atinge as glândulas lacrimais e salivares, causando olhos secos e irritados e boca seca, que podem levar a dificuldades para engolir, falar e mastigar, além de aumento do risco de cáries e infecções bucais.
  • Atinge Outros Órgãos: A Sjögren não se limita apenas às glândulas. Ela é uma doença sistêmica, o que significa que pode afetar diversas partes do corpo, como as articulações, pele, pulmões, rins, vasos sanguíneos e o sistema nervoso.
  • Primária ou Secundária: A Síndrome de Sjögren pode ser primária (quando ocorre isoladamente) ou secundária (quando se manifesta em associação com outras doenças autoimunes, como Artrite Reumatoide, Lúpus Eritematoso Sistêmico e Esclerodermia Sistemica, entre outras).

Por ser uma doença que se manifesta de forma tão variada e pode afetar múltiplos sistemas do corpo, o diagnóstico precoce e o acompanhamento com um reumatologista são cruciais para um manejo eficaz e para preservar a qualidade de vida.

Causas e Fatores de Risco: Por Que a Síndrome de Sjögren Acontece?

As causas exatas da Síndrome de Sjögren ainda não são totalmente compreendidas, mas, como outras doenças autoimunes, acredita-se que resulte de uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Ou seja, pessoas com uma predisposição genética podem desenvolver a doença quando expostas a certos gatilhos.

Fatores que Contribuem para o Desenvolvimento da Síndrome de Sjögren:

  • Predisposição Genética: Ter familiares com Síndrome de Sjögren ou outras doenças autoimunes aumenta o risco de desenvolver a condição. A presença de certos alelos genéticos (especialmente os do complexo HLA) está associada a uma maior susceptibilidade.
  • Fatores Hormonais: A Síndrome de Sjögren é nove vezes mais comum em mulheres do que em homens, especialmente após a menopausa. Isso sugere que os hormônios femininos, como o estrogênio, podem desempenhar um papel na sua manifestação.
  • Infecções Virais: Alguns pesquisadores acreditam que certas infecções virais (como o vírus Epstein-Barr, hepatite C ou HIV) podem atuar como gatilhos em indivíduos geneticamente predispostos, ativando uma resposta autoimune.
  • Outras Doenças Autoimunes: A Síndrome de Sjögren frequentemente coexiste com outras doenças autoimunes, como Artrite Reumatoide, Lúpus Eritematoso Sistêmico, Esclerose Sistêmica, entre outras. Nesses casos, é classificada como Sjögren secundária.

É importante lembrar que ter um ou mais desses fatores de risco não significa que a pessoa desenvolverá a Síndrome de Sjögren, mas sim que pode ter uma maior probabilidade.

Sintomas da Síndrome de Sjögren: Como Reconhecer os Sinais de Alerta?

Os sintomas da Síndrome de Sjögren podem variar significativamente de pessoa para pessoa, tanto em intensidade quanto na forma como afetam o corpo. No entanto, os sinais mais característicos estão relacionados à secura. Conhecer esses sinais é crucial para buscar um diagnóstico precoce.

Sintomas Mais Comuns (Síndrome Seca):

  • Olhos Secos (Xeroftalmia): Sensação de areia, queimação, coceira, irritação e vermelhidão. Em casos graves, pode haver lesões na córnea.
  • Boca Seca (Xerostomia): Dificuldade para engolir alimentos secos, falar por muito tempo, gosto alterado, sensação de boca pegajosa, aumento da sede e maior incidência de cáries, gengivite e infecções fúngicas (candidíase oral).
  • Inchaço das Glândulas Salivares: Principalmente as glândulas parótidas (localizadas na frente das orelhas) e submandibulares (abaixo da mandíbula), que podem ficar inchadas e doloridas.

Sintomas Extraglandulares (Afetando Outras Partes do Corpo):

Além da secura, a Síndrome de Sjögren pode causar uma variedade de sintomas sistêmicos, que afetam outros órgãos e sistemas:

  • Fadiga Intensa: Cansaço persistente e debilitante que não melhora com o repouso e que pode ser um dos sintomas mais limitantes da doença.
  • Dor Articular e Muscular: Dores nos músculos (mialgia) e nas articulações (artralgia) que podem ser acompanhadas de inchaço (artrite) e rigidez.
  • Pele Seca: A pele pode ficar áspera, com coceira, e apresentar manchas ou erupções.
  • Secura Vaginal: Em mulheres, a secura vaginal pode causar desconforto e dor durante a relação sexual.
  • Fenômeno de Raynaud: Condição em que os dedos das mãos e/ou pés ficam pálidos, azulados e depois avermelhados em resposta ao frio ou estresse, acompanhado de dormência e dor.
  • Comprometimento de Órgãos Internos: Embora menos comum, a Sjögren pode afetar:
    • Pulmões: Tosse seca, falta de ar.
    • Sistema Nervoso: Neuropatia periférica (dormência, formigamento)
    • Sistema Vascular: Vasculite (inflamação dos vasos sanguíneos).
  • Risco de Linfoma: Em uma pequena porcentagem de pacientes, há um risco aumentado de desenvolver linfoma, um tipo de câncer do sistema linfático. Por isso, o acompanhamento regular é vital.

Se você apresenta um ou mais desses sintomas de forma persistente, especialmente a secura nos olhos e na boca acompanhada de fadiga ou dores articulares, é fundamental procurar a avaliação de um reumatologista. O diagnóstico precoce pode ajudar a prevenir complicações e melhorar significativamente sua qualidade de vida.

Diagnóstico da Síndrome de Sjögren: Como a Condição é Identificada?

O diagnóstico da Síndrome de Sjögren pode ser desafiador devido à diversidade de sintomas e ao fato de que eles podem se assemelhar aos de outras condições. Não existe um único exame que confirme a doença, mas sim uma combinação de avaliações clínicas, exames laboratoriais e, por vezes, biópsias.

O processo diagnóstico geralmente inclui:

  1. Avaliação Clínica e Histórico Detalhado: O reumatologista irá conversar sobre seus sintomas, histórico médico e familiar, e realizar um exame físico completo para identificar outras manifestações da doença.
  2. Exames de Sangue: São realizados para detectar a presença de autoanticorpos específicos e avaliar a função de órgãos que podem ser afetados:
    • Fator Antinúcleo (FAN): Geralmente positivo, mas não exclusivo da Sjögren.
    • Anticorpos Anti-Ro/SSA e Anti-La/SSB: São os autoanticorpos mais específicos para a Síndrome de Sjögren e são um forte indicador da doença.
    • Fator Reumatoide (FR): Podem estar presentes, especialmente se houver artrite associada.
    • Outros Exames: Hemograma completo, provas de função renal e hepática, eletrólitos, entre outros, para avaliar a extensão do envolvimento sistêmico.
  3. Testes para Avaliar a Secura Ocular:
    • Teste de Schirmer: Mede a produção de lágrimas colocando uma pequena tira de papel filtro na pálpebra inferior.
    • Lisamina Verde: Colírio especial que colore áreas danificadas na superfície do olho devido à secura.
  4. Testes para Avaliar a Secura Bucal:
    • Cintilografia de glândulas salivares: Mede o fluxo de saliva e grau de inflamação das glândulas salivares.
  5. Biópsia de Glândulas Salivares Menores (Biópsia de Glândula Labial): Considerado o exame padrão-ouro, porém só é necessária em alguns casos, quando os outros exames não confirmam o diagnóstico. Uma pequena amostra de tecido é retirada de uma glândula salivar menor do lábio inferior para análise microscópica, buscando sinais de inflamação característicos da Sjögren.

É fundamental que o diagnóstico da Síndrome de Sjögren seja feito por um reumatologista experiente, pois a doença pode mimetizar outras condições e o diagnóstico correto é a base para um plano de tratamento eficaz e individualizado.

Tratamento e Cuidados: Gerenciando a Síndrome de Sjögren para Mais Qualidade de Vida

Embora a Síndrome de Sjögren seja uma doença crônica e sem cura, o tratamento é essencialmente focado no alívio dos sintomas, na prevenção de complicações e na melhora da qualidade de vida do paciente. As abordagens são multifacetadas e frequentemente exigem uma equipe multidisciplinar.

1. Medidas para Aliviar a Secura (Sintomas Glandulares):

  • Olhos Secos:
    • Lágrimas Artificiais: Gotas lubrificantes sem conservantes, usadas regularmente ao longo do dia.
    • Colírio Autólogo (Soro Autólogo): Uma opção de tratamento avançada para olhos secos severos. Esse colírio é produzido a partir do próprio sangue do paciente, utilizando componentes do soro sanguíneo que contêm fatores de crescimento e nutrientes essenciais para a superfície ocular. É uma terapia personalizada que pode promover a cicatrização e reduzir a inflamação, proporcionando alívio significativo quando outras opções não são suficientes.
    • Colírios Específicos: Em casos mais graves, colírios com ciclosporina ou lifitegraste podem ser prescritos para reduzir a inflamação e aumentar a produção de lágrimas.
    • Oclusão dos Pontos Lacrimais: Pequenos plugs de silicone podem ser inseridos nos canais lacrimais para reter as lágrimas por mais tempo.
    • Umidificadores de Ambiente: Podem ajudar a manter a umidade do ar, especialmente em locais secos ou com ar condicionado.
  • Boca Seca:
    • Hidratação Constante: Beber água em pequenos goles e com frequência.
    • Saliva Artificial: Sprays ou géis que imitam a saliva natural.
    • Medicamentos Estimulantes de Saliva: Pilocarpina ou cevimeline (não disponível no Brasil) podem ser prescritos para aumentar a produção de saliva.
    • Higiene Bucal Rigorosa: Uso de pastas de dente e enxaguantes bucais específicos para boca seca, escovação frequente e visitas regulares ao dentista para prevenção de cáries e doenças gengivais.
    • Evitar: Alimentos secos, pegajosos, açucarados, cafeína, álcool e tabaco.

2. Tratamento para Sintomas Sistêmicos e Complicações:

  • Medicamentos Imunossupressores/Imunomoduladores: Para Sjögren com manifestações sistêmicas mais graves (afetando órgãos internos, como rins, pulmões, sistema nervoso ou vasos sanguíneos), o reumatologista pode prescrever:
    • Corticosteroides: Podem ser necessários para controlar a inflamação e a atividade autoimune de forma mais rápida até que outros medicamentos comecem a agir .
    • Hidroxicloroquina: Pode auxiliar a reduzir dores articulares e sintomas gerais.
    • Metotrexato, Leflunomida, Azatioprina, Micofenolato de Mofetila, Ciclofosfamida: Medicamentos que suprimem o sistema imunológico, podem ser indicados em determinados casos.
    • Agentes Biológicos: ainda não temos nenhum imunobiológicos com indicação em bula para o tratamento da Sindrome de Sjogrem.  Entretanto, em casos selecionados e refratários, há evidências de eficácia com o uso de  imunobiológicos, que age em células específicas do sistema imune, como Rituximabe.
  • Manejo da Dor e Fadiga:
    • Analgésicos e Anti-inflamatórios: Para dores articulares e musculares.
    • Controle da Fadiga: Medidas como exercícios físicos adaptados, boa higiene do sono e técnicas de manejo do estresse são fundamentais.
  • Outras Medidas de Suporte:
    • Fisioterapia: Para manter a mobilidade articular e a força muscular.
    • Apoio Psicológico: Para lidar com o impacto emocional da doença crônica, fadiga e outras limitações.
    • Nutrição Adequada: Uma dieta equilibrada pode contribuir para o bem-estar geral.

O acompanhamento regular com o reumatologista é a chave para ajustar o plano de tratamento conforme a evolução da doença, monitorar o surgimento de novas manifestações e prevenir complicações. A colaboração com outros especialistas (oftalmologista, dentista, nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo) é frequentemente necessária para uma abordagem completa.

Dicas Práticas e Minha Mensagem Final: Estratégias para Viver Melhor com a Síndrome de Sjögren

Conviver com a Síndrome de Sjögren pode ser desafiador, mas é fundamental saber que, com o diagnóstico correto, o tratamento adequado e estratégias de autocuidado, é possível gerenciar os sintomas e viver com mais conforto e bem-estar. A informação é a sua maior aliada.

Aqui estão algumas dicas práticas para o seu dia a dia:

  • Hidrate-se Constantemente: Tenha sempre água por perto.
  • Higiene Bucal Rigorosa: Escove os dentes após as refeições, use fio dental e visite o dentista regularmente.
  • Proteja Seus Olhos: Use óculos de sol para proteger do vento e da luz intensa, e considere umidificadores de ambiente.
  • Manejo da Fadiga: Priorize o descanso, faça pausas e pratique exercícios leves, como caminhadas.
  • Comunique-se com Sua Equipe Médica: Relate todos os seus sintomas e dúvidas ao seu reumatologista e aos demais profissionais que o(a) acompanham.

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Lembre-se: O cuidado da sua saúde é o primeiro passo para um viver com mais qualidade e bem-estar.

Se você está apresentando os sintomas que viu neste artigo, possui fatores de risco, ou simplesmente deseja um atendimento médico especializado, acolhedor e focado nas suas necessidades de saúde, não hesite em buscar orientação.

 

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Dra. Jaqueline Lopes

Olá! Sou a Dra. Jaqueline, médica Reumatologista formada pela UFMT. Sou apaixonada pela reumatologia e pela arte de ensinar, paixões que me levaram a atuar no meio acadêmico como médica concursada do HCFMUSP-SP por vários anos. Ao optar por me desligar, descobri que a arte de ensinar não está restrita ao meio acadêmico, e pode-se ensinar muito através de uma consulta médica. Assim, ao longo da minha trajetória como médica reumatologista, aprendi que a consulta médica vai muito além de prescrever tratamentos ou diagnosticar condições de saúde. Envolve empatia, escuta ativa, compreensão do paciente como um todo e construção de confiança.

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Dra. Jaqueline Lopes

Olá! Sou a Dra. Jaqueline, médica Reumatologista formada pela UFMT. Sou apaixonada pela reumatologia e pela arte de ensinar, paixões que me levaram a atuar no meio acadêmico como médica concursada do HCFMUSP-SP por vários anos. Ao optar por me desligar, descobri que a arte de ensinar não está restrita ao meio acadêmico, e pode-se ensinar muito através de uma consulta médica. Assim, ao longo da minha trajetória como médica reumatologista, aprendi que a consulta médica vai muito além de prescrever tratamentos ou diagnosticar condições de saúde. Envolve empatia, escuta ativa, compreensão do paciente como um todo e construção de confiança.